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Sobre a goma guar, e a perfuração hidráulica para extrair gás de xisto

Existe uma particularidade que muito merece ser mencionada a propósito do advento da prospeção e exploração de gás de xisto: a perfuração hidraúlica dos solos com vista a alcançar os poços de gás natural depende da aplicação de um produto natural conhecido como goma guar.
  
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É surpreendente como a prospeção de gás de xisto em território norte-americano está a contribuir para fortes desenvolvimentos na agricultura indiana, mas também para pressões inflacionistas no preço dos produtos alimentares em todo mundo. A culpa é da goma guar.
 
A planta de onde se extrai a goma guar (Cyamopsis tetragonoloba),  é cultivada no nordeste da Índia, e é a partir das suas sementes que se obtém o pó branco (se desidratado) que participa num grande número de formulações comerciais  pelas suas propriedades espessantes, emulsificantes e estabilizantes. So no setor da alimentação, é abundamente usado para espessar alimentos como leite, iogurte, queijo, gelado, molhos como ketchup, sopas, etc.
 
É pois com enorme surpresa que a goma guar surge também associada ao contexto da perfuração hidráulica com vista à extração de gás natural e petróleo contidos em formações rochosas de xisto. Para perceber o contexto do seu uso há que esclarecer que a perfuração hidráulica consiste na injeção de uma mistura de água, areia e aditivos químicos em formações rochosas, com vista a criar fissuras permanentes que permitam criar linhas de acesso ao poço subterrâneo e extração do seu conteúdo. A figura abaixo ajuda a compreender visualmente o processo de perfuração.
 
 
A goma guar é um componente chave dos aditivos químicos exactamente pelas mesmas propriedades com que é usada no setor alimentar, desta feita aplicadas a misturas de água e areia. Pode-se imaginar estando os poços deste tipo situado a profundidades da ordem dos 2 km, a quantidade necessária de areia, água e, consequentemente, de goma guar possa ser muito elevada.
 
O seu carácter inócuo para o ambiente e lençóis freáticos torna a goma guar num produto difícil de substituir com outros compostos sintéticos ou mesmo naturais. De resto, o seu uso para fins de extração petrolífera começou na década 1960, com quando passou a ser usado em alternativa ao amido de milho, também ele um espessante.

A emergente exploração de terrenos xistosos, que progride em grande ritmo, está a ter um impacto muito significativo na economia em torno da goma guar. Desde janeiro de 2011 o preço deste produto aumentou 800%"[1], o que se repercute num estímulo à sua produção, através do cultivo da espécie, e na necessidade de corrigir os preços dos produtos alimentares (e outros) que também contemplam  goma guar.
 
Registe-se que, no ano de 2011 a Índia exportou 915 milhões de dólares para os EUA em goma guar, sobretudo para explorações de gás de xisto. Este foi, de resto, o produto de agricultura mais exportado pela nação indiana para os EUA.
 
Fontes: Geology.com + Fuel Fix