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Sobre os fluidos eutéticos profundos e a potencial revolução nas fábricas de pasta e papel



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Existe uma grande expectativa de que os fluidos eutéticos profundos possam revolucionar as fábricas de pasta, de modo a que passe a ser possível produzir pasta de papel a pressão atmosférica e baixas temperaturas.

Para perceber todo este potencial, importa responder a duas questões:

1) o que são  e em que contextos surgem os fluidos eutéticos profundos?
2) o que podem fazer pela indústria de pasta?

  

1) Por definição, fluidos eutéticos (FE) são solventes iónicos com composições variadas, caracterizando-se por exibirem pontos de fusão inferiores aos que individualmente os seus componentes apresentam. Diferem dos chamados líquidos iónicos porque enquanto nestes as ligações entre componentes são ligações iónicas, no caso dos FE as ligações dominantes são pontes de hidrogénio. Dentro do universo de FE, aqueles ditos "profundos" (FEp) são uma classe mais recente (2003), e que envolve compostos ureia e cloreto de colina.

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Exemplo da variação do ponto de fusão um solvente eutético,
neste caso misturas de ácido malónico e cloreto de colina 

 Sabe-se que as plantas usam FEp à base de glicose enquanto solução metabólica para lidar com períodos de seca ou congelação. Esta solução natural permite aos vegetais algo muito valioso que é a dissolução da madeira e eventual extração selectiva da lenhina, hemicelulose e celulose.



2) Em termos de processo base, a ideia é que os FEp afirmem um caminho alternativo ao processamento químico e mecânico a que a madeira tem atualmente de ser submetida. Para além de substituto, um processo assente em FEp poderá proporcionar uma maior convergência para um conceito designado por "Fábrica de Pasta Omnívora", na qual os principais constituintes da madeira são separados e obtidos em estado puro, com grande enfoque na reciclagem também.

A ser possível, com recurso aos FEp, obter lenhina em estado puro, então esta poderá deixar de ser usada como fonte de energia (e eletricidade), e integrar a o início da cadeia de valor da indústria química na qualidade de substituto dos compostos aromáticos.

 A ser possível, com recurso aos FEp, dissolver seletivamente os constituintes da madeira, torna-se igualmente possível dissolver seletivamente a celulose em papel usado. Tal caminho poderá fortalecer a via da reciclagem e o ciclo regenerativo do papel.

 Por último, sendo esta uma tecnologia muito menos agressiva e exigente do ponto de vista técnico, a sua implementação em futuras plantas poderá dispensar a aquisição de equipamentos atualmente necessários para cobrir o processo em vigor. Tal situação faria baixar o custo de investimento em fábricas de pasta.

Fonte: CEPI