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Sobre o milenar consumo de chiclete, o seu processo industrial de produção, e as vantagens para saúde




Devido ao modo como a indústria alimentar mudou o carácter artesanal com que no passado as opções e tradições alimentares eram geridas pelas pessoas e sociedades, há certos bens alimentares que hoje aparentam ser o produto desta indústria mas que, historicamente, foram apenas ampliados  e processados desde essa mesma escala artesanal, abrindo caminho para universalização do seu consumo.

Um desses produtos é o chiclete, conhecido por pastilha elástica em Portugal, o qual surgiu entre nós como produto comercial por volta de 1848. Porém, hoje sabe-se que o primeiro homem a mascar "chiclete" terá sido um habitante da atual ilha sueca de Orust, há pelo menos 5 mil anos, que consumiu casca/resina de bétula alegadamente para sarar feridas na boca [1]. Sabe-se também que os gregos mascavam resina da árvore Pistacia lentiscus como chiclete há cerca de 2400 anos atrás [2]. 

Curiosamente, a casca de bétula sabe-se hoje ser um fonte de ácido betulínico (ou betulina, precursor deste), o qual tem sido investigado pelas suas variadas propriedades, nomeadamente capacidade antitumoral, antiinflamatória, anti-malária, etc [3]. Este composto surge também em árvores de outras espécies como o eucalipto (Eucalyptus spp.), que em Portugal é a principal matéria-prima da indústria de pasta e papel.

Enquanto as formulações específicas que cada marca utiliza atualmente são relativamente secretas, o processo de produção de pastilha elástica não o é, tendo sido ao longo dos anos combinado com novas máterias-primas e aditivos, bem como novas tecnologias de manuseamento, tornando o produto e processo mais sofisticados. Porém, sobre o seu processo de produção, sabe-se que:
  1. Nas versões originais, a borracha natural era o ingrediente necessário, sendo obtido de fonte vegetal. Atualmente, materiais sintéticos são usados para esse efeito, tais como a borracha de butadieno-estireno, o polietileno, e o acetato de polivinilo.
  2. Pode ser necessária uma etapa de secagem com ar quente e revolvimento constante do material.
  3. A borracha é derretida e cozinhada a mais de 100ºC, sendo filtrada e centrifugada sucessivas vezes com vista à removação de impurezas.
  4. Dá-se a adição dos demais ingredientes, nomeadamente o açúcar e o xarope de milho, mas também o aromatizante e agentes amaciantes. A mistura é processada mecanicamente até atingir uma consistência suave.
  5. Dá-se a extrusão, e arrefecimento. Deste ponto em diante a mistura é processada mecanicamente com vista a dar origem às doses pretendidas. 
Esquema de produção de chiclete artesanal . Imagem: Made How



Produção de chiclete industrial.

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  • Quais as vantagens para a saúde com o seu consumo?
No vídeo acima apresentado, as vantagens do consumo de pastilhas elásticas na limpeza mecânica da boca, e no controlo do pH oral (contra a proliferação bacteriana) é evidenciado. Porém, as vantagens do consumo deste produto parecem ser bem mais mais abrangentes:

"(...)o consumo de pastilhas elásticas adoçadas com edulcorantes artificiais parece favorecer a saúde oral, nomeadamente pela menor prevalência de cárie dentária nos consumidores deste produto. De igual modo, é útil promover o seu consumo em indivíduos que têm a boca excessivamente seca, uma vez que o acto de mascar aumenta a secreção de saliva.

Mais interessante é verificar que o uso de pastilhas elásticas favorece a recuperação de doentes submetidos a cirurgia digestiva, diminuindo o tempo necessário até que o intestino volte a funcionar normalmente. Mas talvez a área mais surpreendente seja a da relação entre o consumo deste produto e o desempenho cerebral. De facto, mascar pastilha elástica permite uma maior activação de certas áreas cerebrais e este efeito relaciona-se com melhor aptidão no desempenho de certas funções superiores, como a memória de trabalho, maior rapidez de reacção e melhor controlo motor, assim como um melhor processo cognitivo. Mais ainda, estes efeitos, quando estendidos no tempo pela prática continuada de mascar, associam-se a menores índices de depressão e a maior bem-estar. Existem ainda dados muito recentes que apontam também benefícios ao nível da pressão arterial, por exemplo."

Fonte: Nuno Borges - Nutricionista e Professor - Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação Universidade do Porto